O consumo de combustível sempre foi uma das principais preocupações dos motoristas em relação aos seus carros, ainda mais em tempos bicudos - esta é, invariavelmente, uma das informações mais requisitadas pelos nossos leitores sobre as novidades que chegam ao mercado. Mas, além das características próprias de cada marca/modelo/versão, existem outros fatores que entram nessa conta do consumo de combustível. Quem nunca ficou de queixo caído ao saber que um parente, amigo ou conhecido, dono de um modelo igualzinho ao seu, consegue uma média de consumo bem melhor ou pior que a sua?
Para entender essa questão, procuramos o engenheiro Francisco Satkunas, conselheiro da SAE BRASIL - Sociedade de Engenheiros da Mobilidade, que listou os principais fatores que influem no consumo de combustível de um veículo.
Eles são o único ponto de contato do veículo com o solo. Os
pneus, portanto, tem um papel crucial em qualquer questão de consumo de
combustível - mais especificamente, devido à sua resistência ao rolamento. E é
exatamente por isso que os chamados “pneus verdes” estão se popularizando cada
vez, uma vez que eles ajudam a reduzir o consumo de combustível por terem uma
baixa resistência ao rolamento.
Se você vai viajar com o carro cheio de passageiros e de
bagagem, é essencial calibrar os pneus para esta situação. Todos os modelos
possuem uma pressão recomendada para quando o veículo está carregado -
informação que consta no manual do proprietário e, na maioria dos modelos, em
uma etiqueta localizada na porta do motorista, coluna central ou na portinhola
de abastecimento. A calibragem correta, além de economizar combustível, também
contribui para prolongar a vida útil dos próprios pneus.
Além disso, o desalinhamento das rodas também provoca maior
resistência ao rolamento dos pneus - e, por consequência, aumento no consumo de
combustível. Por isso, o alinhamento deve ser feito a cada 10 mil quilômetros -
ou sempre que você pegar algum buraco de forma mais brusca. Fique atento,
também, a esses sintomas: pneu “cantando” em curvas de baixa velocidade e
desgaste excessivo nos ombros do composto são os sinais mais claros de que as
rodas precisam ser alinhadas.
Além dos pneus, alguns itens de manutenção têm relação
direta com o consumo e estão entre os primeiros suspeitos quando o consumo de
combustível de um carro aumenta com a mesma rotina (mesmo motorista, percurso e
horários). O primeiro item é o filtro de ar, que pode estar sujo e precisa ser
substituído. “Nessa situação, o fluxo de ar fica reduzido e a central
eletrônica faz a compensação injetando mais combustível”, explica Satkunas. “O
aumento no consumo pode chegar a até 8%.”
Por isso, siga a quilometragem indicada pelo fabricante para
a substituição do filtro de ar. Se a utilização for em condições severas - como
uso diário em estradas de terra ou em congestionamentos com grande concentração
de poluição - essa quilometragem deve ser reduzida pela metade (Satkunas
explica que a fuligem da poluição tem efeito similar ao das partículas de
terra). Em situações muito extremas, é recomendável levar o carro até uma
concessionária ou mecânico de confiança para checagem do filtro.
Outros problemas que afetam diretamente o consumo de
combustível são velas sujas, defeitos nos cabos de vela ou nas bobinas. Esses
problemas podem ser identificados com relativa facilidade, pois provocam
redução de potência e falhas na aceleração.
Ar-condicionado
Os departamentos de engenharia das marcas trabalham
exaustivamente em cima da aerodinâmica dos seus modelos, sempre em busca de
pequenos detalhes no design da carroceria que permitam ao veículo cortar o ar
de forma mais eficiente. Já no dia a dia, a principal influência do motorista
nesse ponto é a abertura das janelas - de onde nasce a dúvida: é mais econômico
rodar com o ar-condicionado ligado ou com com as janelas abertas? A
recomendação de Satkunas é de sempre fechar as janelas e usar o ar-condicionado
ao rodar acima de 40 km/h. “A partir dessa velocidade, o consumo começa a
aumentar em torno de 2% a 3%, acima do que se perde com o ar ligado”.
No entanto, Satkunas faz algumas ressalvas. “No meio da
cidade, mesmo rodando devagar, muitas vezes não é seguro abrir as janelas”,
diz. “Por outro lado, muitas vezes a temperatura ambiente já caiu, mas o
motorista esquece de desligar o ar-condicionado”. Então, fique atento e
desligue o sistema de climatização sempre que possível. Vale lembrar que alterar
a temperatura ou diminuir a velocidade da ventilação não alteram o consumo, uma
vez que o compressor continua funcionando da mesma maneira.
Por fim, é possível economizar um pouco de combustível
desligando o ar-condicionado um pouco antes de se chegar ao destino. Isso
também pode ajudar a sua saúde, já que a prática seca os dutos e o filtro da
cabine, reduzindo a ocorrência de fungos no sistema - o que causa aquele
mau-cheiro característico.
Excesso de peso
Não é por acaso que todas as fabricantes de veículos
trabalham intensamente para reduzir o peso dos seus carros. Em todos os grandes
mercados mundiais, as empresas precisam atender à metas de redução de consumo
de combustível que estão cada vez mais rígidas. “Quanto maior a massa a ser
deslocada, maior o consumo de combustível”, resume Satkunas. Mas o motorista
também precisa fazer a sua parte: não utilize o porta-malas do veículo como um
guarda-volumes, transportando itens desnecessários.
Além disso, Satkunas também dá uma dica para motoristas que
rodam pouco diariamente e enchem o tanque a cada duas semanas ou mesmo em um
mês. “Ao encher o tanque e demorar tanto para consumir o combustível, do ponto
de vista da engenharia, o motorista está carregando um peso morto durante a
maior parte dessa quilometragem”, explica. Nesse caso, ao invés de encher o
tanque, o motorista pode abastecer meio tanque ao invés de completar, aumentando
o número de visitas ao posto.
Combustível adulterado
A adulteração de combustível é um grave problema no Brasil e
que pode provocar graves danos no motor - ou, na hipótese menos grave, aumentar
o consumo de combustível do veículo. Dependendo do tipo de adulteração, o
motorista pode nem sentir mudanças na tocada do carro e só vai perceber algum
problema ao checar a média de consumo no computador de bordo ou quando encostar
novamente na bomba de combustível.
“Os sistemas de injeção eletrônica conseguem se adequar às
condições do combustível que está sendo utilizado. Na época do carburador,
qualquer adulteração tinha um efeito quase que imediato”, explica o conselheiro
da SAE.
Via: Auto Esporte